Depois de uma consulta com J. (7 anos) recordei F. (6 anos). Histórias semelhantes. Filhos únicos. Filhos de pais separados. Pais que conseguem relacionar- se simpaticamente 'para bem do nosso filho'. Separações dolorosas ainda assim. Dolorosas para todos. Para as crianças também. J. tinha 6 anos quando a sua família se transformou. F. 4 anos. Perceberam as transformações de modo diferente pela idade que tinham aquando os acontecimentos.
J. veio à consulta com os pais. Manifesta ansiedade, problemas de sono, alguma irritabilidade/agressividade e falta de concentração na escola. Há cerca de três meses... Desde então a família procura cumprir o estipulado pelo tribunal no que toca à custódia do pequeno. Uma semana na 'casa da mãe, uma semana na minha'. 'Só queremos que ele se sinta bem. Achamos ser esta a melhor maneira de ele se sentir em casa. E ter tempo com ambos da mesma forma...' diz a mãe, algo chorosa.
Na verdade, J. tinha como sua casa apenas uma das casas. Era lá que se sentia 'à vontade', onde gostava de brincar com os seus brinquedos e onde se sentia seguro para dormir. Gostava de ir para a outra casa. Mas não para ficar. Para dormir. 'Ainda por cima uma semana inteira! Fico com dores aqui', diz-me enquanto encosta a mão em punho contra o estômago.
O que acontece de diferente com F? F. tem a sorte de não ter que sair da sua casa, das suas coisas, da sua rotina. São os pais que saem, alternadamente a cada semana. Ora é a mãe que vai uns dias par casa dos avós de F., ora é o pai que passa a semana noutro 'pequeno apartamento que aluguei'. Quando me procuraram iniciavam esta nova forma de vida (depois de tentarem algo semelhante ao que tentam agora os pais de J.) e queriam ouvir opiniões. Já tinham abordado advogados, pediatra, a educadora do pequeno e agora questionavam-me. Havendo a possibilidade, tudo era uma questão de tentarem e verem como funcionaria. Sendo que sublinhei a importância de pensarem no futuro. Em futuras relações, por exemplo. Nas consequências que esta nova forma de vida poderia trazer para todos. Não seria adiar uma dificuldade apesar de uma maior estabilidade naquele momento?
Os pais de F. seguiram em frente com esta sua ideia e sei que ainda hoje se mantém, com sucesso. Mesmo havendo agora novos elementos da família por parte do pai (a namorada deste e filha desta). Até à data conseguem manter funcional esta forma de vida que muito procuraram para garantir o maior bem estar possível do seu filho.
Também os pais de J. encontrarão a melhor maneira de ajudá-lo a superar os receios, medos, inseguranças e frustrações. Encontrarão a melhor maneira para que J. se adapte a uma nova etapa da sua vida, na qual mãe e pai já não são casal nem habitam juntos com ele.