Aquele início de consulta parecia levar me por um caminho habitual.
'Viemos porque D. ainda dorme na nossa cama' - diz a mãe sorrindo e olhando de lado para a filha. D. tem 7 anos. Com a menina veio, para além da mãe, o pai. Em casa ficou a irmã mais nova apenas com 2 meses.
O que começou por ser uma prática esporádica (uma noite menos bem dormida, um chichi que a meio da noite molha a cama de D., uma febre ou dor mais acentuada) tornou se frequente e hábito em casa desta família. D. ganhou gosto pela cama dos pais e é lá que não só prefere adormecer como dormir a noite inteira. Se até há uns meses atrás a situação não era um problema de maior, com o nascimento de uma nova filha tornou-se 'urgente tirá-la de lá'. Não só passaram a ser quatro no quarto (e por vezes na cama) dos pais como o choro da bebé e a amamentação noturna 'é prejudicial para D. E o facto de dormir mal torna se prejudicial para nós. Estamos arrependidos, bem nos avisaram que estavamos a agir mal'.
Primeiro ponto: a maioria das famílias passa por este fase. Pais partilham a cama com os filhos em algum momento da sua vida e o co sleeping é uma prática que embora envolva alguns riscos promove também benefícios.
Segundo ponto: quando criamos uma rotina e habituamos a criança a algo não podemos exigir que ela modifique o seu comportamento ao ritmo que desejamos. Mudar o seu comportamento implica estar psicologica e emocionalmente preparada para tal. Implica ter maturidade para 'dar o salto'.
Terceiro ponto: no decorrer destes anos em consulta da criança e aconselhamento parental apercebi me de que o nascimento de um irmão faz os pais apressar uma série de etapas do(s) mais velho(s). E nunca o nascimento de um irmão deve ser motivo para 'saires da cama da mãe'.
Quarto ponto: (re)criar o quarto da criança com a sua ajuda, torná-lo acolhedor e um ambiente seguro, promover atividades de relaxamento e aproximação antes do dormir, recorrer a ferramentas que promovam um mais fácil adormecer são timmings do plano de intervenção por que a família terá de passar para a mudança do comportamento ocorrer. Isto leva o seu tempo. A criança terá o seu próprio ritmo. E os pais deverão ser capazes de exercitar a sua paciência e perseverança.
É só mais um desafio! E até disto terão saudades quando estas crianças crescerem!