sexta-feira, 23 de março de 2018

'Metade das mães mentem sobre partilhar a cama com os seus bebés.' - diz estudo



Aquele início de consulta parecia levar me por um caminho habitual.

'Viemos porque D. ainda dorme na nossa cama' - diz a mãe sorrindo e olhando de lado para a filha. D. tem 7 anos. Com a menina veio, para além da mãe, o pai. Em casa ficou a irmã mais nova apenas com 2 meses.

O que começou por ser uma prática esporádica (uma noite menos bem dormida, um chichi que a meio da noite molha a cama de D., uma febre ou dor mais acentuada) tornou se frequente e hábito em casa desta família. D. ganhou gosto pela cama dos pais e é lá que não só prefere adormecer como dormir a noite inteira. Se até há uns meses atrás a situação não era um problema de maior, com o nascimento de uma nova filha tornou-se 'urgente tirá-la de lá'. Não só passaram a ser quatro no quarto (e por vezes na cama) dos pais como o choro da bebé e a amamentação noturna 'é prejudicial para D. E o facto de dormir mal torna se prejudicial para nós. Estamos arrependidos, bem nos avisaram que estavamos a agir mal'.

Primeiro ponto: a maioria das famílias passa por este fase. Pais partilham a cama com os filhos em algum momento da sua vida e o co sleeping é uma prática que embora envolva alguns riscos promove também benefícios.

Segundo ponto: quando criamos uma rotina e habituamos a criança a algo não podemos exigir que ela modifique o seu comportamento ao ritmo que desejamos. Mudar o seu comportamento implica estar psicologica e emocionalmente preparada para tal. Implica ter maturidade para 'dar o salto'.

Terceiro ponto: no decorrer destes anos em consulta da criança e aconselhamento parental apercebi me de que o nascimento de um irmão faz os pais apressar uma série de etapas do(s) mais velho(s). E nunca o nascimento de um irmão deve ser motivo para 'saires da cama da mãe'.

Quarto ponto: (re)criar o quarto da criança com a sua ajuda, torná-lo acolhedor e um ambiente seguro, promover atividades de relaxamento e aproximação antes do dormir, recorrer a ferramentas que promovam um mais fácil adormecer são timmings do plano de intervenção por que a família terá de passar para a mudança do comportamento ocorrer. Isto leva o seu tempo. A criança terá o seu próprio ritmo. E os pais deverão ser capazes de exercitar a sua paciência e perseverança.

É só mais um desafio! E até disto terão saudades quando estas crianças crescerem!


quinta-feira, 8 de março de 2018

Violência no (des)Amor


Debater a violencia no namoro ou na relação conjugal já é um ‘habitué’ mas continua a ser a realidade de muitos casais. Homo ou heterossexuais. Unidos civilmente ou não. Com ou sem filhos. No início ou já com muitos anos de relacionamento. No silêncio das quatro paredes de suas casas, ou não!
Em consulta, uma mulher diz-me: ‘Chegamos a um ponto sem possibilidade de retorno.Ele grita, eu grito, ele grita mais alto ainda; ele levanta a mão e... o outro dia, sem pensar peguei numa jarra e lá foi ela pelo ar! Bateu-lhe de raspão!Já nem sei como isto começou.’
Quem é a vitima? E o agressor? Quem está aqui a confessar-se? É um pedido de ajuda de quem? Quem precisa de ajuda?
É alguém que toma consciência de que vive num relacionamento que (já) não é saudável. Fá-la sentir-se ‘angustiada, frustrada’. Não só quando é magoada mas também quando magoa. Fisica e psicologicamente. E mudar é urgente. Reajustar crenças e ideias estereotipadas. Alterar comportamentos que podem ou não alterar a acção do outro. Talvez mudar de contextos e ambiente. Para querer e decidir mudar é necessário compreender a situação. A sua origem, o seu estado, as suas consequências. Aceitar o curso do processo de resolução do conflito. Agir para reestabelecer a sua saúde mental e bem estar físico.

segunda-feira, 5 de março de 2018

E quando os filhos nos deixam sós?



Síndrome do Ninho Vazio! Adoro o nome! E embora evite expor me assim quando toca a exercer a minha atividade como psicóloga, hoje abro uma excepção: dá-me um arrepio e uma certa angustia quando me projeto para o futuro é 'adivinho' o que me espera... 
Quem sofre deste 'mal de amor'? Habitualmente, mães de jovens adultos que saem 'finalmente' de casa. Ganham asas. Porque vão estudar e/ou trabalhar para outra cidade ou pais. Porque se juntam a um(a) namorado(a) ou casam.  Porque se tornam independentes ou têm pretensão de ganharem essa independência. E enquanto os filhos voam e conquistam (muitas vezes aquilo que os pais ambicionavam), as mães (e, ainda que menos vezes mas também os pais) vivem uma angústia e tristeza verdadeiramente incomodativas e dolorosas. 
É hora de olhar para si. Para o que ainda se quer conquistar. Para quem está ali ao lado. É tempo de repensar e reestruturar formas de se viver. (Re)definir objetivos e estratégias para os alcançar. E continuar a ser o 'ninho' para onde os 'pequenos' regressam nos intervalos dos seus próprios afazeres. Disfrutando desses momentos. Mas de todos os outros também...